segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Querido diário...

Quem, nessa vida, nunca teve um diário? A maioria das meninas, crianças ou adolescentes, já teve um. Algumas, hoje, já mulheres, casadas, ainda mantêm um livrinho com um cadeado e uma chave que guardam com a própria vida. Nesse livrinho, elas escrevem seus dissabores, suas alegrias, contam suas histórias para si mesmas.

Eu também já tive um. Ou melhor, vários. Começou na oitava série, quando a professora de Português nos incentivou a escrever um diário para exercitar a redação e a ortografia, a caligrafia, etc. E nós escrevíamos ingênuas, falávamos mal das coleguinhas que nos perseguiam na escola, das artes que aprontávamos contra os professores e a secretária da escola. Contávamos tudo. E a professora lia tudo depois. Ela sabia da nossa vida. Tim-tim por tim-tim.

Na era da informática, continuei exercitando esse hábito. Não com tanta constância como fora na adolescência, mas vez por outra eu escrevia algo. Sempre que estava muito triste, eu ia lá e escrevia alguma coisa. Algum tempo antes, eu usava as agendas que ganhava ao início de cada ano. Algumas eu tenho ainda hoje. Lembro-me perfeitamente o que estava sentindo, sobre quem estava falando na época que escrevi alguns de meus desabafos. Em alguns casos eu usava códigos criados por mim mesma, um alfabeto secreto, porque sempre tinha alguém em casa querendo saber além do que eu permitia, então, a melhor maneira era codificar.

Então, recentemente, eu tenho escrito no meu note book. É fácil, coloco-o no colo, ponho uma música legal, fones no ouvido, abro o Word e conto tudo: tristezas, vitórias, fracassos, arrependimentos, planos para o futuro, sonhos conhecidos e secretos. Em alguns casos eu ainda escrevo assim: “sei que daqui a algum tempo vou ler esse texto e sorrir de tudo isso”. Ou porque venci algum medo, ou porque terei alcançado algo que no momento me parece inatingível.
No final, me sinto mais leve, acabo nem tendo que alugar ninguém com meus dilemas, meus anseios e meus planos malucos.

Mas ontem, algo em mim mudou.

Sempre tenho me questionado porque não sinto vontade de orar, às vezes. Como eu digo pra pastora: “às vezes eu chego à igreja e só mentalizo, porque sei que Deus tá lendo meu pensamento e sabe o quanto eu estou triste, ou cansada, ou qualquer outra coisa”...
Os dias vão passando e eu não consigo ter a vida de oração que gostaria de ter, ou pelo menos, que sei que preciso ter. Um dia, numa manhã de oração em grupo, presenciei uma experiência que mexeu muito comigo. Eu comecei a pensar: Eu quero isso pra mim, eu quero viver isso também. Mas, ao mesmo tempo, eu reconheci que só quem vive aquilo é alguém que tem muita intimidade com Deus, que é “assim” com Ele.

E agora, o livro que estou lendo chama-se “Oração, a chave para o avivamento”, do pastor Cho, da Coréia. Ele conta de suas experiências com a oração, os tipos de oração que existem, etc. Muitas vezes, a gente acha que a oração é algo muito simples, muito fácil de fazer, mas como existem empecilhos que nos impedem de orar... e assim, a nossa vida vai atravancando cada vez mais, fica parada no mesmo lugar, não vivemos nada de novo...

Sim, mas o que tem tudo isso a ver com a história do diário?

Nesse exato domingo, ontem, eu entendi algo que veio como resultado de alguns poucos segundos de oração. Na igreja, eu pedia mudança, libertação de tanta coisa ruim que tem me complicado a vida, me segurado, me feito andar pra trás, ainda que contra a minha vontade... E veio de Deus imediatamente, uma resposta que dizia mais ou menos algo como: “ao invés de contar no seu diário eletrônico, conte pra Mim. Esqueça o seu diário, faça de Mim o seu diário...”

E eu me lembrei de imediato que aquilo era uma verdade, que no domingo à tarde eu tinha desabafado profundamente com o meu note book. Tinha escrito nele algumas coisas que me apertavam o coração e me angustiavam a alma. Coisas que eu não poderia dizer aos mortais, porque senão eles se ofenderiam profundamente. Depois de um tempo de aprendizado, tenho conseguido guardar as coisas que gostaria de dizer. É melhor eu preservar as pessoas do que me satisfazer ao desabafar. Quando a gente desabafa, tira um peso dos nossos ombros e o repassa imediatamente a uma pessoa envolvida na história.

E naquela hora, eu lembrei do meu diário. E entendi que a falta de vontade de orar era simplesmente porque eu não tinha nada pra falar com Deus. Também, pudera, eu já tinha escrito tudo e me aliviado das tensões, dos problemas, das raivas. E ainda tinha a cara de pau de dizer pra Deus: “Senhor, me perdoa, eu não tô muito a fim de falar hoje, eu to tão cansada, tão triste, tão sei-lá-o-quê”.

Cara de pau mesmo, né? Sinceramente, Deus tem muita paciência comigo. Passei milhares de vezes por uma passagem da Bíblia que queria me dizer muita coisa, mas eu lia e não conseguia assimilar a informação: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).
É isso. Quando a gente lê isso e não presta atenção, pensa assim: esse texto já foi pra mim, mas hoje eu já aceitei Jesus, não estou mais cansada e nem oprimida, portanto não preciso mais dele. Mas isso se inclui pra gente antiga na igreja, gente como eu, que escrevia em diário e se esquecia de contar pra Deus.

Domingo foi dia de muita revelação na minha vida. E olha que foi um domingo em que eu não estava me sentindo digna de nada mesmo, de tão chateada que eu estava. Mas Deus usa as situações mais estranhas pra nos sacudir. E olha que foram poucos segundos, como eu disse. Imagina se eu realmente desenvolver um diálogo mais prolongado com Ele.

Tomara que você também se sinta melhor hoje, ao saber que o melhor diário para escrevermos nossa história é manter um diálogo contínuo com Deus. O bom de tudo, é que Ele lê, dá sugestões, resolve os problemas e ainda reescreve uma nova história, cheinha de novidades.
Bom dia, boa semana!
Ah, e feliz ano novo também. Ainda que bem atrasado!