sexta-feira, 6 de maio de 2011

BIFE DO OLHÃO

“... e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5.5)

Segundo a culinária brasileira, bife do olhão é aquele ovo frito inteiro, com a gema no meio, sem quebrar. Eu só fui descobrir isso na década de 90, lá pelos meus 18 anos, e até hoje sorrio quando lembro dessa história.


Minha mãe tinha viajado, todos os meus irmãos moravam fora, papai também estava viajando para tratamento de saúde. Enfim, eu fiquei sozinha em casa. Não sabia cozinhar e nem queria aprender, não gostava de nada que se referisse a serviços domésticos e lembro nitidamente que, quando passei no caixa do supermercado, a moça perguntou: “Sua mãe tá viajando, não tá?” E eu respondi: “Está sim, como você sabe?” Ao que ela prontamente respondeu, do alto de sua larga experiência: “Pelas coisas que você comprou: iogurte, toddynho, lingüiça, pão, ovo... Isso tudo é coisa de quem está só e não sabe ou não quer cozinhar”. Saí sorrindo do supermercado e concordando em tudo. Eu nem sabia e nem queria aprender a cozinhar. Por isso, naquela semana, nem a lingüiça eu preparei. Foi ovo de segunda a sexta: ovo cozido, ovo frito, ovo mexido com cebola e tomate picados, ovo com queijo ralado... todo tipo de cardápio de ovo. Na sexta feira eu já não agüentava mais o cheiro do ovo frito. Liguei para uma grande amiga minha, falei como a vida estava difícil sem a mamãe em casa, como não suportava mais ovo e aí surgiu o convite dela: “Vem passar o dia aqui em casa no domingo, sai de casa um pouco, a gente coloca a conversa em dia e almoça por aqui mesmo, nem que seja um bife do olhão.”

Concordei na hora. Bife? Tô nessa! Não sabia que prato era esse, mas imaginei alguma coisa bem incrementada, um bife suculento com algumas rodelas de tomate ou cebola por cima (ou os dois juntos), ou até com as rodelas da lingüiça que eu não tive vontade de preparar. Mas sabia que era bife e eu precisava urgentemente de carne bovina. Passei o sábado comendo ovo, mas feliz da vida, por saber que no domingo tudo seria diferente. Eu ia comer bife do olhão!

No domingo saí cedo pra casa dela. Chegando lá, soube que a mãe dela também tinha viajado, então éramos só nós duas e toda aquela carne pra comer. Detalhe: eu não precisaria cozinhar, ela prepararia tudo... Fiquei esperando a hora do almoço, ela foi pra cozinha preparar tudo e eu nem me interessei em aprender a receita. Queria mesmo era comer.


Quando a comida veio pra mesa, eu olhei desolada e não sabia se ria, se chorava ou se brigava com ela e ia embora. Em cima da mesa, em um prato bem grande, quatro ovos fritos enormes, com aquela gema gigante no meio, intacta. Nem quis acreditar no que via. Olhei pra ela e pensei: “A entrada dever ser ovo, o bife deve estar ficando pronto. Mas ela não sabe que eu comi ovo a semana inteira?”?

O tempo foi passando e eu, esperando... Até que não agüentei e perguntei: “Mas cadê o bife?” E ela me respondeu: “Taí, amiga, bife do olhão. Eu te avisei. A mamãe viajou e não deixou nada pronto, é o que temos por hoje”.

Eu comi. Tava com fome. Tinha ido lá pra almoçar. Também, não queria chegar em casa e ter que preparar a lingüiça. Eu estava com muita, muita raiva. Almocei com a respiração presa, pra não sentir o cheiro e o gosto daquela fritura que eu já conhecia tão bem. Fui embora pra casa “mufina”, como se diz aqui no Pará, desorientada, sem-graça... Nesse dia eu descobri o que era bife do olhão.

É assim conosco, quando estamos no mundo, sem Deus. A gente só come bife do olhão. Alguns, porque não conhecem outro cardápio. Outros, até conhecem, mas não querem ter o trabalho de preparar. Caímos num comodismo sem tamanho e começamos a achar que as crises, decepções, desesperanças que sofremos são normais, coisas da vida. Engolimos os bifes do olhão goela abaixo e no dia seguinte achamos que tudo terá outro sabor.


Não tem. Vida sem Deus tem sempre o mesmo sabor. Sabor enjoativo de bife do olhão e de todos os outros tipos de ovo que já conhecemos. Não tenho nada contra ovo, deixo isso bem claro aqui. Tenho contra a falta de novidade na vida da gente. Muitas vezes batemos na porta das pessoas querendo alguma novidade que mude a nossa vida, mas a única coisa que elas têm pra oferecer nós já conhecemos: é bife do olhão. E a gente sai de lá com a respiração presa, sem querer sentir aquele gosto de novo, sofrendo calada. Sofrimento não é “coisa da vida”. É coisa da vida sem Deus, assim como a desesperança. O bife do olhão é prático, mas é enjoativo. É a vida sem Deus. Já o cardápio variado, com novidades de carnes diversas, saladas e sabores, dá um certo trabalho, mas o prêmio de saborear as gostosuras preparadas não tem preço!

Que nós possamos ser pessoas inconformadas com os “bifes do olhão” que a vida nos oferece. Precisamos ser conscientes de que Deus quer nos dar o melhor, Ele quer que experimentemos um belo filé, ao invés do ovo nosso de cada dia.
A esperança em Deus é a única que não nos desaponta. O mundo, os amigos, a família, podem prometer coisas que talvez não consigam cumprir. Mas Deus promete e faz. Ainda que aos nossos olhos demore, a esperança Nele nos faz crer que não seremos desapontados. Amém!