terça-feira, 11 de agosto de 2009

DIAS MELHORES VIRÃO...



O título deste livro, de Max Lucado, é bastante sugestivo. Terminei sua leitura dias antes de mais um grande acidente aéreo: do vôo AF447, que ia do Brasil para Paris.
Assistindo aos noticiários na televisão, imagino a dor das famílias, dor essa que, só quem está passando pode descrever, se é que tem como descrever algo assim. São filhos que ficaram sem pais, esposos que ficaram sem esposas, pais que agora não têm mais seus filhos...
Um casal recém-casado seguia para a lua-de-mel... o que terá passado na mente dessas quase 250 pessoas que estavam ali, enfrentando um caminho sem volta?

Talvez você esteja pensando a mesma coisa, enquanto assiste aos plantões telejornalísticos: onde está Deus nessa hora? Por que Ele permitiu algo assim? Tem como surgir algo bom em meio a tanta tristeza?
O livro Dias Melhores Virão trata exatamente disso: como curar a dor e reconquistar esperança quando nada parece dar certo. Em oito capítulos de profunda reflexão, reforça aquilo que alguns de nós já sabemos, mas que por muitas vezes nos esquecemos: Deus não muda por causa das nossas tempestades. Ele não recua diante de nossos problemas. Ele não se espanta com esses problemas. O livro fala de José (do Egito), de Moisés e do profeta Daniel. Todos três estiveram em meio a tempestades. O primeiro, vendido pelos irmãos, dado como morto pelo pai, difamado pela mulher do seu chefe, preso injustamente. O segundo, fugindo da morte desde o nascimento e, posteriormente, vagando anos pelo deserto, conduzindo um povo desobediente e murmurador. E Daniel, levado cativo para a Babilônia, teve sua Jerusalém destruída, foi jogado numa fornalha ardente e esteve perto de ser devorado, numa cova cheia de leões...
1. Onde está Deus? Todos nós passamos por desertos. Muitas vezes, somos dados como mortos por gente da nossa própria família, somos injustiçados; quantas e quantas vezes nossa “jerusalém” é destruída? Nossos sonhos, nossos planos, nossas idéias são roubadas...

O primeiro capítulo trata disso. Como Deus pôde permitir que tais coisas acontecessem? “No que ele estava pensando? Ele está realmente no controle? Podemos confiar a condução do universo a alguém que permite isso?” (p.15).

Que atire a primeira pedra, quem nunca pensou assim, por pelo menos alguns segundos. Quantas vezes eu me esqueço que os pensamentos de Deus não são os meus pensamentos, os caminhos de Deus não são os meus caminhos? Porque me acho tão importante a ponto de pensar que Deus está pensando e querendo o mesmo que eu? Enquanto eu penso: preserve o corpo, Ele está pensando: preserve a alma. Eu sonho com um aumento de salário. Ele sonha em ressuscitar os mortos. Enquanto me ocupo com meus problemas, Ele me chama para ganhar almas... como os sonhos de Deus são superiores aos meus! O que me controla, não controla Deus. O que me cansa, não cansa Deus. A águia não se incomoda com o tráfego, pois ela voa acima dele. O leão não teme o rato, pois pisa nele.

Assim, temos que nos lembrar que o Senhor “continua presente no seu santo templo. Ele é o grande Rei, e o seu trono fica no céu. Ele observa a vida dos homens com muita atenção; seus olhos vêem o interior de cada pessoa” (Salmo 11:4). Ele é soberano, Ele sabe de todas as coisas, Ele vê tudo o que acontece, por mais que em alguns momentos pareça que Ele se esqueceu de mim, de você. Mas Ele não se esquece.

2. O grande amor de Deus. Não conseguimos compreender e nem medir o tamanho desse amor. Por isso não conseguimos entender o tamanho do sacrifício da cruz. Qual seria sua reação ao descobrir que Deus preferiria morrer a viver sem você?

Como assim? Sou tão importante assim? É. Somos. Eu e você. O amor de Deus é imensurável com todas as pessoas que sofrem nesse momento. É um amor sem limites, ainda que nos momentos de deserto e de dor, nos perguntemos que amor é esse, que não nos livra do diagnóstico de câncer, que nos tira aquele que parecia ser o grande amor da nossa vida, que leva um ente querido em um acidente tão trágico como o que falamos no início desse texto. O autor faz lembrar, neste capítulo, o texto clássico de Romanos 8.31: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” É comum nos lembrarmos e citarmos esse texto em situações alegres. Quando vem a aprovação no vestibular da Universidade Federal, é normal ouvir esse texto em alto e bom som. Quando vem a promoção, o aumento de salário, a compra do imóvel tão desejado...

... mas nesse capítulo, Max Lucado nos convida a pronunciá-lo, pelo menos por três vezes, em voz alta, também nos momentos de dor. De desespero. De tristeza.
Deus é por mim.
Deus é por mim.
Deus é por mim.

(se por acaso, você estiver lendo esse texto no local de trabalho ou na lan house, lembre-se de olhar para quem, espantado, fita você e diga a essa pessoa: Deus é por você também!).

Nos momentos de dor, Deus está lá. Ele é por nós. Ele mesmo declara na Palavra: “Nunca (abandonaria vocês)! Será que a mãe poderia esquecer o filhinho que ainda mama, poderia deixar de amar seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, Eu nunca me esqueceria de vocês, israelitas! O nome de Israel está gravado em minhas mãos, e meus olhos vêem, a toda hora, os muros caídos de Jerusalém!” (Isaías 49.15,16).

Ouça: o Senhor nos tem gravados nas palmas de Suas mãos. É só Ele olhar a palma de uma de Suas mãos e lá estará o meu nome, o seu nome, e o nome de toda a humanidade. Os filhos, geralmente se sentem protegidos pelos pais, ou por um irmão mais velho. A presença daquela pessoa ali, passa tranquilidade, paz. A maioria das esposas não gosta de ter seu esposo ausente, viajando. Se sentem seguras e cuidadas quando ele estão por perto...

Então, se Deus, que é soberano, que tem o meu e o seu nome gravado nas palmas de Suas mãos, é por nós, quem será contra nós? A dor? A morte? A tristeza? A depressão?

Ah, eu quero me lembrar sempre de que o meu Deus, que escreveu meu nome da palma de Sua mão, me salvou para viver tranquila e em paz. Mesmo em meio às tempestades, precisamos ter paz. A paz que excede todo entendimento. Não podemos nos esquecer disso.

E finaliza o segundo capítulo:
“ - Você se pergunta até quando meu amor durará? Encontre sua resposta em uma cruz cheia de lascas, em uma colina escarpada. Sou eu, seu Criador, seu Deus, que você vê lá em cima. Transpassado por cravos e jorrando sangue; todo cuspido e molhado pelo pecado. É o seu pecado que estou sentindo. É a sua morte que estou morrendo. É a sua ressurreição que estou vivendo. Isso é o quanto eu amo você.” (p. 34).

3. Com os olhos no Pai. Aqui, somos convidados a ampliar Deus, colocar uma lente de aumento para vê-lo, e assim, compreender melhor sua magnitude. Saber que Ele está no comando. Não apenas saber, mas viver sob esse comando. Quando as coisas não vão bem pra nós em alguma loja onde fazemos compras, costumamos chamar o gerente. Ele é, naquele momento, a voz e a imagem que temos de “comando”. Assim é com Deus. Com a diferença que Ele está no comando 24 horas, ininterruptamente, on line o tempo todo. O expediente de Deus não termina às 18 horas e Ele também atende aos finais de semana. Só não atende quando não chamamos, afinal, o gerente da loja também jamais saberá que o cliente precisa dele se não for chamado, se não for avisado.

Os pensamentos de Deus são tão superiores aos nossos que, enquanto estamos com medo, desesperados, Ele tranquilamente tira um cochilo (Marcos 4.38). O que nos apavora, nem sequer “tira o sono de Deus”. Simplesmente porque Ele é por nós.

4. O bem triunfa. “Como Deus pode permitir que o mal traga destruição e perda à nossa vida? Por que ele não nos protege dos que cometem atos pecaminosos e maus?” (p. 45).
Esse capítulo, assim como os outros, vem recheado de grandes revelações. Você sabia que Satanás continua sendo servo de Deus e que ele só age até aonde Deus permite? Lembra de Jó? Satanás queria provar a fé de Jó, mas só foi até onde Deus permitiu que ele fosse.
“E o Senhor disse a Satanás: 'Está bem! Faça o que quiser com ele, mas não tire a sua vida!'” (Jó 2.6. Bíblia Viva, Editora Mundo Cristão).

É isso aí. Satanás só vai até aonde Deus delimita que ele vá. Obviamente isso o deixa muito frustrado, mas é assim que as coisas são. Ele era anjo de Deus, um dos mais belos, mas isso não o satisfazia. Ele queria estar acima de Deus. E quando achou que estava conseguindo seu intento, a promessa se cumpriu e o sangue de Cristo foi derramado por mim e por você. Jesus tomou as chaves da morte e do inferno e triunfou. E Satanás continua servindo a Ele, porque maior é o que está em nós (Deus) do que o que está no mundo (I João 4.4).

Lucado diz que Satanás é usado por Deus para:
● Aperfeiçoar os fiéis. Assim como o 'espinho na carne”, de Paulo (II Coríntios 12:7), somos levados a situações que nos permitem aperfeiçoar nossa humildade, ou até mesmo fazê-la brotar, caso não exista.
● Despertar os que dormem. Já observou que “há momentos em que o coração fica tão duro e os ouvidos tão insensíveis que Deus nos leva a sofrer as consequências de nossas escolhas”?(p. 52). Também é assim conosco, que somos pais e mães: amamos nossos filhos, mas em dado momento permitimos que eles vivenciem situações que os levem a pensar, a refletir. O Pai também permite que vivenciemos o inferno para despertar a nossa fé. (p.53).
● Ensinar a igreja. Quando você passa por certa situação, e vence, consegue fortalecer e ajudar outra pessoa que esteja passando por algo parecido. Não porque alguém lhe contou como foi, mas sim porque você viveu, lutou e venceu para transformar seu deserto em festa.

5. O gosto amargo da vingança. Há alguém que lhe deva algo?, pergunta o autor. Com certeza você responderá que sim. O motorista do ônibus que não parou quando você fez sinal. Seu colega de trabalho que não cansa de fazer fofoca com seu nome. Uma surra injusta que seu pai lhe deu há décadas atrás... Ih, são tantas coisas, nem vale a pena listar, tenho certeza que você vai recomeçar a sentir raiva de quem você já tinha até esquecido. Não vale a pena mesmo.

A vingança não é de Deus e somos perdoados por Ele na mesma medida que perdoamos nosso próximo (Mateus 6.14,15). Aí a coisa fica mais séria, muito mais... de repente, começamos a pensar que certas coisas que nos fizeram não têm perdão, mas se nos lembrarmos que seremos medidos com a mesma medida que medimos, até dá pra fazer um esforço.

“Você gostaria de ter paz? Então, pare de infernizar o seu próximo. Quer desfrutar da generosidade de Deus? Então deixe que os outros desfrutem da sua. Gostaria de ter convicção de que Deus o perdoa? Acho que você sabe o que precisa fazer.” (Lucado, p. 64).

6. No silêncio, Deus fala. Às vezes, falamos tanto, reclamamos tanto, que nem ouvimos Deus falar. Às vezes cantamos: “Fala comigo, fala Senhor...” mas nós é que não paramos de falar. Contamos nossa vida pra todo mundo que passa. Cada um tira uma conclusão e vai embora, sem dar solução ao problema. E Deus lá, tentando falar. Mas Ele não interrompe, como faria seu melhor amigo ou amiga de carne e osso. Ele fica calmamente esperando que nos calemos, para que, no silêncio, Ele possa se manifestar. Quando falamos demais, estamos desconsiderando a grandeza de Deus. Até parece que Ele não nos conhece desde sempre, que não conhece nossos problemas. Ele já os sabe antes que abramos a boca! Quando falamos demais, impedimos a voz de Deus de se manifestar. Portanto, às vezes é melhor calar e esperar que Ele fale, que Ele nos faça saber que é Deus (Salmo 46.10).

7. Na tempestade, oramos. Um exemplo clássico está em João 11.3, quando Lázaro adoece. “Aqueles a quem amas, está doente”, disse uma pessoa desconhecida, enviada pelas irmãs de Lázaro a Jesus. Ao que Ele respondeu: “essa doença não terminará em morte”. Ele deu atenção à pessoa que levava o recado, até mesmo o respondeu de imediato. Assim, fazer-se ouvido por Jesus é um grande privilégio, que está ao alcance de todos os que têm fôlego de vida e abrem sua boca pra falar com Ele. Só que, com a correria do dia-a-dia, acabamos nos esquecendo disso também. Deus nos ouve. Somos importantes para Ele, afinal, Ele tem gravado nosso nome na palma de Suas mãos. Ainda que não consigamos dizer nada e apenas choremos, como acontece sempre que atravessamos os desertos... mesmo assim, Ele nos ouve. “As ações no céu começam quando alguém ora na terra”, diz Max Lucado (p. 81). E a transformação acontece.

8. Pela perspectiva de Deus. Você já experimentou a morte na sua vida? Eu já. E dói. Dói muito. Apesar da dor, olho para trás e fico feliz por ele não estar mais aqui, pra ver tantas atrocidades com as quais quase nos acostumamos hoje em dia, devido a rapidez dos fatos. E como é bom quando temos essa certeza. Imagino o que os parentes das vítimas do vôo AF477 devam estar passando, o quanto devam estar sofrendo. Mas Lucado nos afirma que “é justo que choremos, mas não há necessidade de nos desesperarmos” (p. 89). Se temos a plena convicção do que nos espera, isso basta.

Talvez você não esteja atravessando o deserto da morte. Talvez você esteja atravessando o deserto do desemprego, do divórcio, de um filho ou outro parente sufocado nas drogas... talvez seja uma gravidez indesejada, o fim de um grande amor ou qualquer outra coisa que, para mim pode ser nada, mas que tem grande importância para você. Deus também se importa com você. Mesmo que você pense que está só, Ele está ao seu lado. Talvez esteja esperando você se calar, para que Ele possa se manifestar a você no silêncio.

Max Lucado encerra seu livro com uma oração intitulada “Faze-o novamente, Senhor”, apropriada para os momentos de aflição. Um modelo que você pode aperfeiçoar de acordo com as suas necessidades, pois os desertos, as prisões e as covas nunca são iguais. Um pequeno trecho será utilizado aqui, com o desejo profundo de que todos os que estão aflitos nesse momento possam ser consolados com estas palavras e possam, cada um, repeti-las ao Pai.

“... faze novamente o que fizeste no Calvário. O que vimos nesta tragédia, tu viste ali naquela sexta-feira. A inocência acabou. Deus estava sofrendo. Mães estavam chorando. O mal estava dançando. Assim como as sombras caíram sobre nossos filhos, a escuridão caiu sobre o teu Filho. Assim como nosso mundo se despedaçou, o filho da Eternidade foi traspassado. E, ao anoitecer, a canção mais doce foi o silêncio, enterrado atrás de uma pedra. Mas tu não hesitaste, ó Senhor. Tu não hesitaste. Depois de seu Filho permanecer por três dias em um buraco escuro, tu rolaste a pedra, bradaste na terra e transformaste a sexta-feira mais escura no domingo mais brilhante. Faze-o novamente, Senhor. Transforma este Calvário em Páscoa.”

Dias Melhores Virão. Max Lucado. 1995. Editora Thomas Nelson Brasil. Rio de Janeiro.